Se fosse um ser humano, o Firefox OS, sistema operacional móvel desenvolvido pela Mozilla, ainda seria um bebê. No entanto, ele já nasce cheio de responsabilidades e ambições por parte dos pais, para competir com quem já é gente grande nesse mercado e no mercado de tecnologia em geral.
Desbancar Apple, Google e Microsoft, claro, não será fácil, mas é uma missão que a Mozilla está disposta a encarar, aos poucos. Como não se trata de uma grande corporação com fins lucrativos, diferente das futuras rivais, mas sim de uma fundação sem fins lucrativos, o processo tende a ser mais lento, mas o objetivo é nobre: expandir e melhorar a internet móvel.
Por enquanto, a Mozilla Foundation mira mercados muito específicos, procurando atingir os países em desenvolvimento tecnológico, que estão realizando a transição dos celulares comuns para smartphones, como é o caso do Brasil. Por enquanto, a intenção da Mozilla é oferecer um aparelho barato, na faixa de preço de um featurephone. Este nicho, segundo Andreas Gal, vice-presidente de mobile da Mozilla, ainda é inexplorado.
Para ele, não há concorrência neste mercado. O Android não está sendo capaz de suprir a necessidade de quem procura realizar esta migração. Os aparelhos que estão na faixa de preço ou são muito antigos, ou estão muito desatualizados.
“As empresas estão investindo cada vez mais na produção de um ‘matador de iPhone’, e os Androids estão ficando cada vez mais caros. Nós queremos ajudar o público a entrar na era digital, com a transição dos featurephones para os smartphones”, diz ele em entrevista aoOlhar Digital.
Isso não significa, no entanto, que o público que quer aparelhos mais potentes e com configurações robustas nunca poderá aderir ao ecossistema da Microsoft. Gal cita que existem, sim, planos de diversificar a linha de aparelhos com Firefox OS, como forma de atingir mais pessoas. Por enquanto, porém, o Brasil tem apenas um aparelho com o sistema, o LG Fireweb, extremamente básico.
E como é diferente?
A Mozilla sempre se orgulhou do fato de que seus projetos são open-source, ou seja, eles têm um código-fonte aberto, que pode ser livremente analisado e modificado pela comunidade de desenvolvedores, apesar de haver apenas um software oficial, distribuído pelos canais da empresa.
O que há de mais próximo em relação a isso no mercado é o Android, que, mesmo assim, possui uma parte de seu código restrito. Com isso, apesar de sua equipe pequena, se comparada com os concorrentes, financiada com o apoio de doações e, principalmente, de receitas vindas do buscador do Google em seu navegador, a Mozilla consegue se manter em pé. Seu projeto atrai muitos entusiastas, que acreditam que o propósito da fundação é realmente fazer a web melhor.
Mas de nada vai adiantar fazer a web melhor se o sistema não cair no gosto do público. Na verdade, o sistema não adianta se não tiver aceitação popular. Para tentar chegar até o povo, o Firefox OS é pensado para se adaptar ao país. No caso do Brasil, houve um contato com desenvolvedores nacionais para levar conteúdo que é de interesse dos brasileiros, além de pensar no sistema para o país. O rádio FM, por exemplo, é um recurso que muitos smartphones não têm mais, mas o sistema da Mozilla possui.
E como nós sabemos e podemos ver no mercado, os aplicativos são decisivos para a escolha de uma plataforma sobre a outra. É um dos motivos pelo qual o Windows Phone ainda pena atrás de Android e iOS, ambos com lojas muito mais robustas. Como sistema recém-nascido, o Firefox OS não chega nem perto da concorrência, mas Andreas Gal pensa que a forma como o sistema é construído, totalmente baseado na web, no HTML5, pode ajudar a atrair desenvolvedores.
“Veja por exemplo o caso da Microsoft e o Windows Phone. Alguns apps não chegam à plataforma porque os desenvolvedores precisam se adaptar aos limites impostos pela Microsoft, porque não vale a pena. A escolha pelo HTML5 facilita a vida dos desenvolvedores, com uma plataforma aberta e popular”, explica ele. Se, de fato, funcionar, pode ser um atrativo para que empresas apostem no sistema.
Segurança e privacidade
A questão do momento para qualquer nova plataforma que tenha a ver com conectividade, principalmente algo tão pessoal quanto um celular, é privacidade. O escândalo Snowden, que dá a entender que algumas empresas abrem brechas em seus sistemas e softwares para que governos (principalmente o dos EUA), mudou o jeito como as pessoas encaram seus gadgets.
Para a Mozilla, só há uma forma de solucionar estas suspeitas sobre espionagem e é a abertura do código dos softwares, como já é feito nos navegadores da empresa, e também é feito no Firefox OS.
“Com isso, mesmo que recebêssemos uma ordem secreta para abrirmos uma brecha em nosso código e não pudéssemos revelar por questões jurídicas, nossa comunidade poderia analisar o sistema e perceber esta vulnerabilidade”, revela Andreas Gal. Ele também afirma que a espionagem só funciona se for feita de forma secreta; quando todos sabem que estão sendo espionados, ela perde o sentido.
Novamente, ele lembra da diferença em relação aos softwares já estabelecidos no mercado, que podem até ter uma parte de seu código aberto, mas não todo, o que abre espaço para que empresas colaborem ou sejam forçadas a cooperar com um esquema de espionagem.